Transformações da pandemia criam pontes para a gestão exponencial nas empresas tradicionais

Por   Flavio Padovan*

 Desde as primeiras menções feitas por Salim Ismail, diretor executivo e Fundador da Singularity University e autor principal de Exponential Organizations, o termo ‘gestão exponencial’ sempre esteve ligado a empresas da nova geração. Elas são marcas como Airbnb, Netflix, Uber, assim como as brasileiras XP Investimentos, Nubank, entre outras, que nasceram como startups, mas rapidamente assustaram suas indústrias com um ritmo alucinante de crescimento baseado em intensas inovações e uso de tecnologia emergentes.

Claro que este desempenho chamou a atenção do ambiente institucional e incentivou companhias com décadas de tradição a iniciarem movimentos na direção desta maneira de administrar o futuro das organizações. Mas, não precisa ser especialista para saber que, é muito mais fácil criar uma organização a partir do zero com este tipo de visão do que transformar culturas construídas após anos e anos de grandes esforços para disseminar processos que, de uma forma ou de outra, proporcionaram resultados positivos a estas companhias, baseados em conceitos que faziam sucesso em épocas anteriores. 

Em função desta maior dificuldade, ainda são poucas as empresas estabelecidas que podem ser apontadas como representantes da gestão exponencial. A novidade é que a pandemia causou uma aceleração nos experimentos e está servindo como um incentivo para que os projetos saiam do papel e sejam colocados em prática, substituindo antigos modelos por inovações aceleradoras de crescimento.

Atravessando a ponte

Este novo momento pode ser aproveitado para intensificar os movimentos e atravessar a ponte entre o normal e o exponencial. Mas para isso, é fundamental entender o que há em comum entre os ícones da evolução acelerada.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que gestão exponencial está relacionada a uma visão de longo prazo. Não é possível construir um negócio com este tipo de ambição baseado em uma visão de curto prazo. Também é fundamental a consciência de que nestas empresas a cultura de inovação é um princípio muito forte e estimulado tanto de cima para baixo quanto de baixo para cima em todos os níveis da organização. Nelas, as pessoas são estimuladas todo o tempo a pensar diferente e encontrar soluções novas.

Empresas orientadas por gestão exponencial desenvolvem uma visão aguçada do mercado e conseguem antecipar tendências com uso de dados e ao fazerem isso, constroem marcas fortes e muito bem-posicionadas que transformam clientes, fornecedores, colaboradores e todos os públicos em fãs de seus produtos e serviços.

Concorrência assimétrica

Outra característica marcante é a capacidade de competir assimetricamente, ou seja; desenvolver a habilidade de concorrer em segmentos de mercado nos quais não atuava originalmente. Como exemplo desta forma de atuação se destaca a Tesla, tradicional companhia do setor de energia que passou a construir os famosos automóveis elétricos, pegando todas as montadoras tradicionais de surpresa.

Muitas dessas características podem ser vistas como arriscadas, mas certamente também são constituídas de aspectos sedutores resumidos no próprio significado da expressão exponencial que é entendido como um crescimento dez vezes superior ao de uma empresa normal.

Crescer de forma exponencial significa obter o maior número de clientes possível, com menor custo e utilizando o menor tempo para chegar a este objetivo.

As mudanças obrigatórias realizadas para reagir à pandemia criaram a ponte que leva a este objetivo.  Para atravessá-la as empresas precisam se oxigenar para pensar e atuar de forma diferente. É preciso aprender com as empresas que já nasceram exponenciais. Criar ecossistemas em seu redor para receber colaboração externa interna. São passos que precisam ser dados. Caso contrário a ponte não terá muita utilidade.

* Flávio Padovan, sócio da MRD Consulting. Foi diretor de operações da Ford na América do Sul, ocupou o cargo de vice-presidente na Volkswagen do Brasil e foi presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa).