Troca de ativos da Eleva com a Cogna atesta consolidação do mercado
Ricardo de Jesus, sócio da MRD Consulting, fala sobre a operação que envolve compra de 51 escolas do ensino básico, e resulta de um movimento iniciado pelo setor em 2019
Com a aquisição da Eleva Educação, grupo que acaba de abocanhar 51 escolas da Cogna (ex-Kroton), por quase R$ 970 milhões, o bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann, confirma o movimento de consolidação do setor, iniciado em 2019, e prevista pelos analistas do setor para este ano. “Com seu apetite por aquisições, a Eleva sai na frente na disputa por um mercado, que tem faturamento anual estimado em cerca de R$ 70 bilhões”, diz o professor Francisco Borges, consultor de políticas educacionais da Fundação de Apoio à Tecnologia (Fundação FAT).
Ao colocar as escolas da Cogna no carrinho, a Eleva deve atingir aproximadamente 120 mil estudantes do ensino básico, em que há disputa acirrada por espaço e por alunos. Na prática, a operação se dá por uma troca de ativos que permitirá a ambas acelerar os respectivos core business. Desta forma, a Cogna, por meio da Vasta, comprou o sistema de ensino da Eleva por R$ 580 milhões.
“Analisando o que se propõe, com as suas marcas subsidiárias, com o olhar da experiência do setor educacional, que se tornou mercado no ensino superior a partir de 2001; e o setor de educação básica, que ainda não é um negócio de grandes investimentos, mas está na mira, as possibilidades de evolução da Cogna pautadas somente por fusões e aquisições tradicionais eram poucas”, diz Borges.
Ele destaca que essa reestruturação era esperada e está evidente de 2019, ano em que mudanças estruturais foram realizadas pelos maiores grupos, de olho na educação básica. “Tal posicionamento deve-se ao fato de a educação superior demonstrar estagnação do número de matriculados”, diz.
O consultor Ricardo de Jesus, da MRD Consulting, destaca que o primeiro grande lance nesta direção foi dado ainda em 2018, pela Kroton que pagou mais de R$ 4,5 bilhões pelo controle da empresa de ensino básico Somos Educação. Para ele, o potencial do mercado é gigantesco.
A educação básica contempla 85% dos alunos em idade escolar, o que representa 48 milhões de alunos e é considerado bastante pulverizado no Brasil. Existem cerca de 40 mil escolas privadas de educação básica no país, com uma média de 300 alunos. O ticket médio fica entre R$ 500 e R$ 600, o que corresponde a uma receita mensal entre R$ 150 mil a R$ 180 mil.
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“O estado de São Paulo, devido à concentração de renda, conta com escolas maiores (entre 500 e mil alunos) e estas são as mais assediadas por grandes grupos e fundos de investimentos”, afirma Jesus. “Muitos investidores têm nos procurado em busca de oportunidades de negócio na área.”
Na avaliação dele, o aumento da inadimplência, redução das receitas por conta de descontos e necessidade de mais investimentos em tecnologia, além da forma como vão conduzir a volta às aulas nos próximos meses, fará da gestão do caixa um enorme desafio das escolas particulares neste cenário pós-pandemia, o que deve provocar uma nova onda de fusões e aquisições no setor.
O Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro, atenta ainda para o fato de que os transtornos causados pela pandemia da Covid-19 geram também uma face menos negativa e traumática para o mercado, que a é a inovação educacional. Para um setor que sempre foi resistente às mudanças e a adoção de novas tecnologias, a crise traz à tona um momento de reflexão, adaptação e flexibilização. Assim, o uso de ferramentas digitais e o crescimento das parcerias público-privadas devem, e precisam, mobilizar toda a sociedade. “É necessário se unir para buscar soluções aos desafios educacionais que virão no pós-pandemia”, completa o professor Borges, da Fundação FAT.
Reportagem publicada em 03 de março pelo Monitor Mercantil.